sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Terra Livre Out-Nov de 2014

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A propósito de invasoras



A propósito de espécies invasoras

Muitos açorianos continuam alheados das questões ambientais e continuam a dar pouca ou nenhuma importância à conservação da natureza.
Estamos longe do período áureo da educação ambiental promovida pelos serviços oficiais que era implementada pela rede regional de ecotecas, geridas por associações diversas, com atividades destinadas a jovens em idade escolar e não só e que culminava com a realização anual de um Encontro Regional de Educação Ambiental.
Hoje, a educação ambiental está quase e tão só restrita ao Programa Eco-escolas que cada vez mais mobiliza menos professores e cujas atividades quando existem atraem cada vez menos alunos. Além disso, pelo menos nos casos que conheço bem, caiu-se na rotina da participação nos desafios lançados a nível nacional, como concursos de árvores de natal, e os eventuais efeitos positivos do projeto não se estendem a toda a comunidade escolar.
As autarquias pouco fazem e quando o fazem é quase apenas para cumprir calendário. A título de exemplo, menciona-se os dias sem carros, em que como alternativa aos mesmos se apresentam póneis ou trotinetes, os dias da árvore, com plantações de endémicas em cima umas das outras, ou os dias do ambiente com a construção de ninhos para aves em zonas urbanas e que, na melhor das hipóteses não servirão para nada, e. na pior, irão ser muito úteis aos pardais que não são uma espécie que merece medidas especiais de proteção, antes pelo contrário.
Mas, para além do que está escrito acima, a grande falha de toda a tentativa de educação ambiental está no ignorar que os problemas ambientais são problemas sociais e que só podem ser resolvidos se houver alterações profundas nas sociedades atuais.
Não é de agora o fenómeno das espécies invasoras, que existe desde sempre mas que ter-se-á intensificado, a partir do século XV, com os descobrimentos. No caso dos Açores, desde o seu descobrimento têm sido introduzidas, voluntariamente ou não, várias espécies que cá se têm adaptado. Algumas têm sido de grande utilidade para quem cá vive, enquanto outras, pelo contrário, tornaram-se numa das principais ameaças à conservação da flora e fauna endémicas.
Nalguns meios, mais restritos, há quem esteja à procura de responsáveis pelas espécies introduzidas que se transformaram em invasoras e o nome mais apontado tem sido o de José do Canto, que como todos sabemos terá sido o açoriano que mais espécies vegetais, oriundas de várias regiões do planeta, terá introduzido e cultivado nas suas propriedades.
Não querendo alijar responsabilidades a ninguém, considero de algum modo injusta a procura de bodes expiatórios e sem sentido o culpabilizar quem viveu noutra época, onde as preocupações eram outras e não se tinham os conhecimentos que hoje se têm. Com efeito, José do Canto, ao introduzir muitas espécies, tinha objetivos bastante definidos que estavam relacionados com o aproveitamento das mesmas para a agricultura, a horticultura, a silvicultura e a ornamentação de jardins, tornando possível uma melhoria da qualidade de vida de quem cá vivia.
Também, embora não querendo crucificar ninguém, é importante ficar registado que, depois de se ter conhecimento de que algumas introduções causam desequilíbrios nos ecossistemas, podendo levar à perda da biodiversidade e à extinção de espécies nativas, é no mínimo negligente continuar com introduções de espécies que noutras regiões têm um comportamento invasor.
A título de exemplo de introduções negligentes, recordo-me a plantação de lantana nos “socalcos” do aeroporto de Ponta Delgada, importadas do continente, quando por cá já andavam a conspurcar alguns locais da ilha de São Miguel ou a tentativa de introdução de Ipil-ipil, para a produção de biomassa para alimentar uma futura central produtora de energia elétrica, que chegamos a ver nos viveiros dos Serviços Florestais nas Furnas.
Mais recentemente, regista-se o caso da plantação de erva-confeiteira nas Portas do Mar ou do penacho ao longo das estradas. Esta última planta, apesar de muito bonita, é invasora em várias zonas do mundo e já está a mostrar os seus dotes em terrenos incultos da ilha de São Miguel, destacando-se os situados na zona do Caldeirão.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores nº 30473, 29 de Outubro de 2014, p.10)

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Ao serviço do lobby tauromáquico


Envie à Deputada Europeia dos Açores, Sofia Ribeiro, o texto abaixo ou outro de sua autoria a mostrar o seu desapontamento por ela ter votado pela continuação do apoio à tauromaquia e a solicitar que reveja a sua posição.

sofia.ribeiro@europarl.europa.eu

Exma Senhora Deputada
No passado dia 22 de Outubro foi votada no Parlamento Europeu uma proposta do eurodeputado holandês Bas Eickhout para que os subsídios concedidos pela União Europeia no âmbito da Política Agrícola Comum deixassem de poder ser utilizados na criação de touros para a tauromaquia.

Conhecendo o passado sindicalista de V. Exª, que durante alguns anos lutou por uma vida mais digna para a classe docente, lamentamos que tenha votado para que fundos que podiam ser usados na produção de bens alimentares ou no apoio a projetos caráter social ou cultural continuem a ser usados para a tortura de animais.

Embora com a sua ação tenha prestado um péssimo serviço a todos os portugueses e desiludido muitos dos seus eleitores, vimos apelar a que reflita sobre o assunto e que numa próxima oportunidade reconsidere a sua posição e vote em prol dos verdadeiros interesses do país e dos direitos dos animais.

Com os melhores cumprimentos

(Nome)

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Em defesa do cagarro


MANIFESTO EM DEFESA DO CAGARRO

REIVINDICAÇÕES PARA A CAMPANHA “SOS CAGARRO” 2014


Considerando as deficiências com as quais ano após ano se confrontam os voluntários da Campanha “SOS Cagarro” e que levam a uma maior queda e ferimentos das aves e a umas condições às vezes pouco dignas para o seu resgate, as associações e os cidadãos abaixo assinantes reivindicam por parte do governo regional:

1) Um compromisso para a redução efetiva da iluminação pública durante as duas semanas principais que dura a Campanha SOS Cagarro.

Mais da metade das aves que caem em terra tem por causa a exagerada iluminação pública de infraestruturas como portos de pesca, campos de futebol e estradas situadas junto ao litoral.

Nesta situação a Campanha SOS Cagarro e todo o labor dos voluntários muitas vezes não passa de um logro, limitando-se na realidade a recolher as aves que previamente são “obrigadas” a cair em terra devido à excessiva iluminação. Como consequência das quedas muitas das aves, perto de um milhar no passado ano, ficam feridas ou morrem.

É necessário seguir exemplos como o das ilhas Canárias, onde as autoridades regionais promovem ativamente a campanha “Apagón por la pardela”, através da qual municípios e entidades privadas reduzem significativamente as luzes durante a campanha de recolha de cagarros. Nos Açores, pouco ou nada disto é feito apesar de existirem ilhas declaradas Reservas da Biosfera que deveriam primar por estarem na vanguarda no respeito e defesa do ambiente.

2) A declaração do cagarro (Calonectris diomedea borealis) como Ave Regional, de especial interesse e proteção na Região Autónoma dos Açores.

Ainda que nos Açores existam outras aves que seriam candidatas a este título, esta espécie é a mais abundante em todas as ilhas, a mais próxima das populações e aquela cuja proteção melhor serviria para a proteção do conjunto dos ecossistemas litorais de todo o arquipélago e de outras aves marinhas ameaçadas.

3) A criação do “Telefone do Cagarro”, telefone único e gratuito para todas as ilhas a funcionar durante as 24 horas durante as semanas da Campanha SOS Cagarro.

O “Telefone do Cagarro” evitaria a actual multiplicidade de telefones disponíveis, todos eles pagos, e facilitaria a comunicação de quedas de aves, reencaminhando a informação para a entidade mais adequada em cada caso.

4) O inicio da construção de um Centro de Recuperação de Fauna (CRF) nas principais ilhas, com capacidade para acolher e tratar todos os cagarros feridos.

Durante a Campanha são bastantes as aves encontradas feridas e que precisam de assistência veterinária, situação até agora não tratada de forma adequada nem digna, faltando infraestruturas próprias. Os CRF poderão servir também de lugar de depósito noturno de todas as aves recolhidas durante a Campanha, que até agora são depositadas em lugares às vezes muito inapropriados até a sua libertação no dia seguinte.

Os CRF são ainda uma necessidade, durante todo o ano, para o tratamento de outras espécies de aves dos Açores e como depósito de animais apreendidos em situação ilegal, necessidade para a qual a própria GNR tem vindo a alertar repetidamente. Actualmente acontecem situações caricatas como o transporte dum milhafre ferido da Terceira até o Corvo, ilha onde nem sequer existem milhafres, por existirem ali umas pequenas instalações para a recuperação de aves.

5) A divulgação pública e a análise dos resultados da Campanha SOS Cagarro, permitindo detetar em todas as ilhas os pontos negros onde é registada em cada ano uma maior quantidade de quedas de aves e uma maior mortalidade.

Esta análise, juntamente com a informação sobre os lugares de nidificação e do sucesso reprodutivo da espécie, permitiria definir melhores estratégias e ações para as Campanhas a realizar nos anos seguintes.


Subscritores coletivos

Amigos dos Açores - Associação Ecológica

Amigos do Calhau - Associação Ecológica

CAES - Coletivo Açoriano de Ecologia Social