quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Herbicidas


O veneno é o melhor remédio?

Um dia destes, estava a passar numa determinada localidade do concelho da Ribeira Grande e deparo-me com duas pessoas com uma máquina às costas a aplicar um herbicida sobre ervas que cresciam numa rua.
A primeira constatação foi a de que tendo ouvido falar num conjunto de regras que os agricultores têm de cumprir, quer relativamente à compra, quer à aplicação de pesticidas, parece-me que as mesmas não são exigidas aos serviços oficiais, isto é Câmaras Municipais e no caso concreto Juntas de Freguesia.
No que toca à aplicação do produto, esquecendo a preparação a que não assisti, não vi quaisquer óculos, isto é não havia proteção aos olhos, não havia qualquer proteção ao nariz e à boca, não usavam luvas e estavam a trabalhar com a roupa que usam no dia-a-dia.
Fui indagar que produto era utilizado e cheguei à conclusão que felizmente não era o que foi denunciado recentemente pela Quercus e pela Plataforma Transgénicos Fora, o qual segundo aquelas organizações possui uma substância ativa o glifosato que “atua nos animais como desregulador hormonal e cancerígeno, em doses muito baixas, que podem ser absorvidas nos alimentos e na água de consumo, supostamente “potável”. Este herbicida tem ainda uma degradação suficientemente lenta para ser arrastado (pela água da chuva, da rega ou de lavagem, em conjunto com um resíduo também tóxico resultante da sua degradação), para a água, quer a superficial (rios, ribeiros, albufeiras e lagos), quer a subterrânea.”
De qualquer modo, embora não sendo o especificamente mencionado, o produto em questão também possui na sua composição o glifosato pelo que todo o cuidado deve ser pouco com o seu ab(uso).
No comunicado referido, aquelas organizações mencionam que se dirigiram a todos os presidentes de Câmaras Municipais “alertando para os riscos ambientais e de saúde, da aplicação de herbicidas em espaços urbanos, prática generalizada por todo o país”.
Não sei se quando se referiram todo o país, incluíram as regiões autónomas, muitas vezes esquecidas. Não conheço qualquer reação por parte das Câmaras Municipais, mas acho que a carta deveria chegar diretamente aos presidentes das Juntas de Freguesia, pois são eles que estão no terreno e são eles os principais responsáveis pelo cuidado das ruas e caminhos.
Mas, se não devem ser usados herbicidas, ou pelo menos alguns, pelos impactos na saúde e no ambiente, que alternativas existem?
Neste momento em que algumas autarquias têm à sua disposição muita mão-de-obra, o uso à monda manual não é de por de parte. Contudo, para quem ache que tal é voltar ao passado, as associações referidas sugeriram o recurso a diversos métodos com destaque para os seguintes: de abafamento, com interesse para jardins, mecânicos e térmicos.
Neste texto, vamos apenas referir os dois primeiros, apresentando as suas vantagens.
Sobre o primeiro método, no documento que vimos citando, podemos ler o seguinte: “O empalhamento consiste em colocar, no local onde se pretende o controlo das plantas infestantes, resíduos vegetais como relva cortada ou simplesmente deixar no local as plantas cortadas. Tem a vantagem de manter a humidade do solo. A plantação de plantas abafantes, de preferência de espécies autóctones, por exemplo em taludes, tem a vantagem de fixarem o solo evitando assim a erosão através de ravinamento”.
Sobre os métodos mecânicos, o texto refere que têm“ já uma expressão considerável no controlo de plantas infestantes em particular nas bermas e taludes ao longo das estradas e, em nossa opinião, deveriam ser mais aplicados em espaços urbanos e outros espaços públicos, em detrimento do uso de herbicidas. Estes métodos originam a produção de grande quantidade de biomassa e, como tal, um recurso com potencial para produção de composto em unidades de pequena escala, por exemplo à escala municipal, que permitem ainda aproveitar outras fontes de matéria orgânica como resíduos verdes dos jardins públicos”.
Em síntese, há alternativas ao uso de herbicidas, falta apenas acabar com as más “tradições” e vontade política para aplicá-las.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores nº 30434, de 10 de Setembro de 2014)