quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A Propósito de Organismos Geneticamente Modificados



Pensei escrever sobre a já muito badalada pressão exercida por dirigentes do mais poderoso país do mundo para que, a meia dúzia de agricultores dos Açores, seja permitido o cultivo de transgénicos. Contudo, como o repúdio que tal tentativa (?) de mandar em casa alheia suscitou foi quase unânime, vou aproveitar a oportunidade para abordar assuntos de menor importância.

1- Eu é que sou o Presidente da Junta

De vez em quando sou confrontado com afirmações que não correspondem à verdade, de que o exemplo mais comum é a reivindicação da autoria de determinada iniciativa ou o cantar vitória em determinada “batalha”.

Para não cansar os leitores e por estar directamente envolvido em muitas situações, limitar-me-ei a dois exemplos.

Há alguns anos, estava eu a caminhar pelas ruas de Ponta Delgada quando encontro uma antiga aluna minha que, a meio de uma conversa de circunstância, me diz: “Professor, tenho-o visto, de vez em quando, na televisão, a falar como representante dos Amigos dos Açores que é a associação que foi criada pelo meu sogro …”. Por não ter pedido autorização para tal não vou divulgar aqui o nome do fundador da referida associação. Apenas sei que o mesmo não tem, nunca teve e não se prevê que venha a ter qualquer nora.

Durante um dos governos liderados pelo PPD-PSD houve a tentativa de instalação de uma fábrica de plásticos na ilha de São Miguel que iria “tratar” plásticos importados. Depois de várias associações se terem manifestado contra a presença da referida fábrica, a mesma não foi avante, segundo creio, por falta de credibilidade dos seus promotores. Conhecida a notícia, logo uma das associações veio cantar vitória, alegando que tal havia acontecido devido à pressão por ela exercida.

2- Quem é o pai da criança?

Há alguns meses, se não me falha a memória, duas associações dos Açores, uma da ilha de São Miguel e outra da ilha Terceira, lançaram uma petição, solicitando a proibição da introdução, no Arquipélago dos Açores, de variedades vegetais geneticamente modificadas e apelando para que a Região Autónoma dos Açores fosse declarada zona livre de cultivo de variedades de OGM.

Mas, a iniciativa que é de louvar, pois nos Açores não há o bom costume de associações diferentes, sobretudo de duas ilhas que muitas vezes estão de costas voltadas, unirem esforços por uma causa comum, levantou logo dúvidas acerca da sua paternidade.

Embora o facto de a iniciativa ter surgido seja mais importante do que saber quem são os progenitores aqui vão três “momentos” que poderão contribuir para por alguns pontos nos ii.

Ao longo dos tempos foram várias as tentativas para fazer algo relacionado com os OGM. Assim, foi em Junho de 2008, aquando da visita de José Carlos Marques, editor do livro “Pensar como uma Montanha”, de Aldo Leopold, que, então, na minha qualidade de presidente dos Amigos dos Açores fiz o último esforço para trazer, a São Miguel, a Professora Auxiliar da Universidade Católica Portuguesa, Margarida Silva, que é familiar do referido editor, autora do livro “Alimentos Transgénicos - Um guia para consumidores cautelosos”.

A 26 de Setembro de 2008, poucos dias antes de falecer, o Veríssimo (Borges) fez-me chegar um texto intitulado “Classificação dos Açores em TERRA como “Zona Livre de Transgénicos” e no MAR como “Santuário de Cetáceos”, no qual escrevia o seguinte: “Nos Açores, sendo ilhas isoladas, o único interesse das multinacionais será a instalação de campos experimentais de casos realmente perigosos, ao ponto de terem medo da perda de controlo e fuga para a natureza nos seus próprios países. [….] Neste contexto surge o interesse objectivo e subjectivo de decretar todas as ilhas açorianas como “Região Livre de Transgénicos” e abandonar os projectos peregrinos, existentes na gaveta, de tornar a breve trecho a Graciosa em campo experimental.” Penso que este texto terá sido publicado no Correio dos Açores, pelo menos era a intenção do seu autor.

Mas, se efectivamente se quiser encontrar o pai da criança, embora se aguardem os testes de ADN, aqui vai o seu nome: Fruter. Com efeito, aquela cooperativa terceirense, através do seu líder Siuve de Menezes, em Março de 2008, apelou ao Governo Regional dos Açores para que declarasse os Açores região livre de transgénicos, tal como já acontecia com a Madeira e com as Canárias.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 18 de Janeiro de 2012)