sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Contra a incineração


Diário dos Açores, 14 de janeiro de 2004

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Especismo


Sobre o especismo

É consensualmente aceite que o termo especismo foi criado, em 1970, pelo psicólogo inglês Richard Ryder, sendo hoje cada vez mais usado, nomeadamente por autores que escrevem sobre direitos dos animais, pelos diversos grupos animalistas e por associações que defendem o regime alimentar vegetariano e pelas organizações veganas.

O especismo que é “uma discriminação baseada na espécie” (Jucirene Silva) ou “a “discriminação ou exploração de certas espécies animais pelos seres humanos, baseada na presunção da superioridade da Humanidade”(Oxford English Dictionary), conduz, segundo Marc Bekoff, a que os seres humanos não só ignorem o bem-estar animal, “como é biologia de má qualidade”.

O mesmo Marc Bekoff, no livro Manifesto dos Animais, acrescentou o seguinte:

“Uma vez que declaramos ser especiais, fechamos as portas às suas vidas. Fechamos os nossos sentidos e os nossos corações às suas dores e recusamos ouvir as preces para serem respeitados por quem são, em vez de transformados naquilo que queremos que sejam, para justificar a nossa estreita visão antropocêntrica do mundo.”

Hoje, apesar de continuarem a existir pessoas que cuidam muito bem do seu animal de estimação mas que continuam a frequentar ou a subsidiar espetáculos onde bovinos são torturados até à morte na arena ou, após horas de sofrimento, no matadouro, estamos longe dos tempos em que viveu René Descartes que defendia que os animais eram como máquinas que não experimentavam qualquer tipo de emoção.

Atualmente cresce o movimento que combate a visão especista e reclama um mundo melhor para todos os seres vivos, sendo importante mencionar que “o antiespecismo e a sua prática de luta pela libertação animal, não só se preocupa com a população não humana mas pretende também “arrombar a gramática da exploração e o sentimento de superioridade pretensamente humano que permite dominar outras raças, géneros, etnias, espécies e minorias de todos os tipos” (A Batalha, jan-fev de 2012).

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31137, 24 de janeiro de 2017, p. 17)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

CONTRA A INCINERAÇÃO EM SÃO MIGUEL


CONTRA A INCINERAÇÃO EM SÃO MIGUEL

Assine aqui: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT84243

De acordo com as pesquisas efectuadas e os orçamentos recolhidos, posso afirmar com toda a segurança que o conjunto de tecnologias presentes na proposta que elaboramos para a gestão sustentável dos resíduos produzidos na ilha de São Miguel corresponde a menos da metade do valor da Incineradora que a MUSAMI / AMISM pretendem construir.
A incineradora custa 68ME, a nossa proposta apresenta uma solução que custa 32ME, mas que na verdade até poderá custar apenas 22ME caso se considere o envio de refugo para a ilha Terceira. Na pior das hipóteses, a poupança será na ordem dos 36ME. E sabem que mais?!?!?! Nao polui o ambiente nem constitui uma ameaça para a Saúde Pública e para a imagem dos Açores. Ou melhor, de São Miguel.
A MUSAMI / AMISM estão a fazer a pior escolha. É injusto, desadequado, perigoso e muito duvidoso. Esperam-se muitas correrias para avançar com este projeto.
Pessoal do Pico da Pedra, Fajã de Baixo, Fajã de Cima, Livramento, São Roque, Ponta Delgada, Calhetas, Capelas, Fenais da Luz, São Vicente... Azores Parque, etc... Espero que tenham a decência de se preocuparem com a vossa saúde. Não se deixem levar pelas cantigas dos filtros da incineradora. É do pior que existe. Pessoal do resto da ilha e consumidores de produtos dos Açores, não se preocupem, terão a sua dose de dioxinas e furanos cancerigenos através do leite, carne, ovos, saladas etc...
Este projecto é um atentado ao trabalho e dinheiro investido na imagem dos Açores.
(Texto de Filipe Tavares)

TEXTO DA PETIÇÃO

Para: Presidente da Assembleia da República Portuguesa, Presidente da República Portuguesa, Primeiro Ministro de Portugal, Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, Presidente do Governo Regional dos Açores, Presidentes das Câmaras Municipais de Ponta Delgada, Ribeira Grande, Lagoa, Vila Franca do Campo, Povoação e Nordeste, Presidente do Conselho de Administração da AMISM, Presidente do Conselho de Administração da MUSAMI.

A Natureza é sem dúvida a grande marca dos Açores. Todas as acções e políticas voltadas para a defesa e conservação do património natural constituem um escudo protector para a paisagem do arquipélago, para a saúde pública e para a economia da Região. Este conceito revelou-se fundamental para alavancar o sector do Turismo e dinamizar a economia do arquipélago. Os Açores têm recebido os mais distintos galardões internacionais graças à sua beleza e estado de conservação. Para tal, foi e é necessária uma visão adequada e ambição para investir em projectos que promovam a natureza de excelência que caracteriza os Açores.


Somos um grupo de cidadãos preocupados com o futuro do nosso planeta e os Açores têm muito a ganhar se estiverem na linha da frente das ações contra as alterações climáticas, servindo de modelo para outras regiões. Acreditamos que produzir nos Açores para consumir nos Açores é a chave para dinamizar a economia regional e implementar o princípio da hierarquia da gestão de resíduos: reduzir, reutilizar e reciclar.


Uma região “Certificada pela Natureza” não se coaduna com a incineração de resíduos. Pelo contrário, deverá promover uma gestão sustentável de resíduos, articulando as mais modernas tecnologias, com a participação activa da população. Os bons exemplos de gestão de resíduos e de práticas cívicas contribuem para uma maior projeção socioecológica dos Açores.


A construção de uma incineradora (Central de Valorização Energética, CVE) na ilha de São Miguel, constitui uma ameaça tremenda para a Saúde pública e Ambiente, com previsíveis efeitos negativos na Economia da Região.


O projeto da incineradora revela inúmeras fragilidades e demonstra que os promotores não estudaram de forma séria as alternativas à incineração nem consideram os erros e problemas que mancham o processo de incineração na ilha Terceira. A hierarquia dos métodos de processamento de resíduos presente nos diplomas regionais foi desrespeitada, assim como as recomendações nacionais e europeias.


Apoiamos a valorização de resíduos, mas entendemos que queimá-los é a pior forma de o fazer porque é prejudicial para a saúde pública e ambiente, desperdiça grande parte do seu potencial, e coloca um entrave importante ao desenvolvimento regional e à criação de emprego

Por motivos de força maior, cuja relevância importa para o interesse público, exigimos a suspensão imediata do processo de construção da incineradora, bem como a reformulação do projeto do Ecoparque da ilha de São Miguel, de forma a que sejam introduzidas tecnologias alternativas à incineração, com vista à implementação de um sistema integrado de tratamento de resíduos que vise a sustentabilidade ambiental e a proteção da saúde pública, tendo efeitos positivos na economia da região.


PROPOSTA
- a adoção de tarifas e sistemas de gestão de resíduos domésticos que incentivem a separação, incluindo dos resíduos orgânicos, e sejam acompanhadas por sistemas eficazes de recolha seletiva;

- a construção de um sistema de tratamento mecânico e biológico moderno, eficaz na separação dos resíduos, seguro e com condições dignas de trabalho para os seus operadores;

- apoios a indústrias de reciclagem locais, que acrescentem valor e o retenham na Região;

- legislação que restrinja severamente as embalagens descartáveis, de forma a favorecer a produção local quer de artigos de consumo quer das respetivas embalagens.


A CONSIDERAR

- a incineração constitui uma ameaça tremenda para a Saúde Pública, Ambiente e Economia da região;

- a incineração está no último patamar dos processos de valorização energética presentes na legislação regional;

- a incineração vai tornar impossível o cumprimento das metas regionais, nacionais e europeias;

- a incineração é uma solução errada e vai no sentido contrário ao do acordo de Paris;

- a incineração constitui uma falsa valorização energética porque impede uma adequada valorização dos resíduos;

- a incineradora não produz energia renovável, ao contrário do que é referido nos documentos que fundamentam a sua construção;

- a incineradora está sobredimensionada

- o custo da incineradora corresponde a cerca de 20% dos fundos europeus para a gestão de resíduos destinados a Portugal até 2020, impedindo o financiamento de projetos ambientalmente mais sustentáveis.


Existem soluções viáveis, mais económicas, que protegem a saúde e o ambiente. Exigimos que sejam implementadas.


Consulte os documentos que foram produzidos para o ajudar a formar uma opinião sobre este assunto

LINK: https://goo.gl/17Crqq


Para mais informações consulte a nossa página do Facebook

LINK: https://www.facebook.com/saomiguellixozerosemincineradora/

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

As Razões do Antiespecismo


As Razões do Antiespecismo

Quando um povo, uma etnia, um género, uma espécie são massacrados, escravizados, aprisionados, explorados, a verdade grita ensurdecedora pedindo que se faça alguma coisa. Como se pode, nestes casos, sustentar que, no fundo, os massacradores que pensam diferentemente de nós, têm direito a continuar a massacrar e a escravizar?

Quando alguém tolhe a liberdade de outros, quando alguém por qualquer meio submete um outro à sua vontade, quando alguém persegue os seus interesses aplicando a ideologia do domínio, deve ser contrariado. Não é possível aceitar e resignar-se. É necessário, pelo contrário, rebelar-se, boicotar, fazer ouvir a sua voz. Porque não o fazendo, torna-se efetivamente cúmplice da dominação e da injustiça. A dominação e a injustiça, de facto, nutrem-se e prosperam vigorosas graças ao silêncio, à resignação e a este novo e distorcido conceito de tolerância.
Em 1600 René Descartes, filósofo e cientista, sustentava que os animais não podiam experimentar qualquer tipo de emoção, que eram como vegetais ou autómatos que se moviam guiados exclusivamente pelos seus instintos bestiais. Pensando bem esta sua tese era a única aceitável se se pretendia continuar a explorar, aprisionar, mutilar e matar os animais diferentes de nós. Hoje, após inúmeras descobertas e estudos de etologia, ninguém de bom senso pode negar que grande parte dos animais pode demonstrar raiva, prazer, aborrecimento, tristeza e alegria. Quase todos os animais fechados numa gaiola ou jaula procurarão todas as maneiras de fugir na tentativa de reconquistar a sua liberdade, quase todos os animais desejam viver com o seu bando ou manada, tal como muitos seres humanos desejam viver com a sua família, tribo ou grupo de afinidade.
Estamos face, portanto, a populações de pessoas não humanas que têm um modo diferente do nosso de interpretar o mundo.
Dominando e explorando estas populações, grande parte dos humanos aplicam grosseira e servilmente a ideologia racista (ou melhor especista) sustentando que tudo o que é diferente de nós não tem valor, nem pensamento, nem cultura, nem direitos. Pode assim ser calcado e submetido ao nosso querer, pode ser usado de qualquer modo para satisfazer as nossas necessidades e os nossos caprichos.
Quando se sustenta não estar de acordo em se querer alargar aos animais os direitos mais elementares, esquece-se sempre de explicar o porquê.
Por que é que uma pessoa humana tem o direito à liberdade e uma não humana pode ser enjaulada, mutilada, alimentada à força e abatida? Talvez porque o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus e lhe foi concedida autorização para explorar todos os animais terrestres? Talvez porque somos mais inteligentes e eles um pouco mais estúpidos? Ou porque somos os mais fortes, os mais cínicos e os mais arrogantes? Ou talvez porque sempre foi assim e certos ensinamentos se transmitem inexoravelmente sem possibilidade de discussão?
….
E visto que os animais não podem rebelar-se sozinhos, parece claro que a quem compete dar um passo atrás devem ser os humanos. Um passo atrás que expulse o trono, o domínio, o poder. Um passo atrás que permita às outras populações existir em liberdade, dignidade e respeito. Não existe nenhuma boa razão para aceitar a exploração e a escravatura dos outros seres sencientes, sobretudo por um ou uma anarquista. Afastadas todas as motivações ligadas à sobrevivência, descobertos finalmente os desastres ambientais relacionados indissoluvelmente à exploração animal, nada mais resta. Aparte, naturalmente, o gosto de domínio, o prazer do poder, a conservação de estereótipos e de condicionamentos herdados de velhas culturas baseadas na violência, na hierarquia, no direito do mais forte.
Francamente não ocorrem particulares aprofundamentos éticos ou filosóficos para compreender tudo isto, para ter a perceção de como a exploração animal é a base para construir a exploração dos homens e das mulheres. E tudo diante dos nossos olhos. No fundo bastaria abri-los e perguntar o porquê.
É pois importante sublinhar que o antiespecismo e a sua prática de luta pela libertação animal, não são só uma forma de ativismo contra a injustiça perpetrada com danos da população não humana, mas são ainda métodos para arrombar a gramática da exploração e o sentimento de superioridade pretensamente humano que permite dominar outras raças, géneros, etnias, espécies e minorias de todos os tipos.
(extractos de um texto, traduzido de Rivista Anarchica, nº 367, Dez 2011 – Jan 2012, publicado no jornal A Batalha, nº 248, Jan-Fev 2012)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

domingo, 8 de janeiro de 2017

Petição pública contra o uso de glifosato nas ruas, jardins e pastagens do Açores vai chegar ao Parlamento açoriano


Petição pública contra o uso de glifosato nas ruas, jardins e pastagens do Açores vai chegar ao Parlamento açoriano

Correio dos Açores 07-01-2017

Escrito por Nélia Câmara


Não ao uso de herbicidas em espaços públicos nos Açores. É assim o nome da petição pública que circula nos Açores e que em breve vai ser enviada aos órgãos competentes de decisão na Região, como é o caso da Assembleia legislativa Regional dos Açores, Presidente da Associação de Municípios da Região Autónoma dos Açores, presidentes das Assembleias Municipais dos Açores, presidentes das Câmaras Municipais dos Açores, presidentes das Assembleias de Freguesia dos Açores e presidentes das Juntas de Freguesias dos Açores. O teor do texto incide no facto de serem “conhecidos os riscos do uso dos herbicidas, não só dos que têm como substância activa o glifosato, para a saúde pública e para o ambiente e que as várias entidades que os usam conhecem outros meios, mecânicos e térmicos, alternativos ao uso de herbicidas, não entendemos a razão por que nada ou muito pouco fazem para proporcionar uma melhor qualidade de vida aos açorianos.

Será que o glifosato, um princípio activo usado nos herbicidas, com diversas marcas, e vendido também nos Açores, será um perigo ao pé da nossa porta? Os especialistas em saúde, através da Organização Mundial de Saúde, dizem que sim, consequentemente as associações de protecção do meio ambiente querem acabar com a sua venda, baseando-se nos dados científicos de que há riscos para a saúde e para o meio ambiente. O alerta dos perigos deste e de outros pesticidas foi dado pela Agência Internacional de Investigação sobre o Cancro (IARC), da Organização Mundial de Saúde (OMS), que considerou “The herbicide glyphosate and the insecticides malathion and Diazinon were classified as probably carcinogenic to humans”, isto é, o glifosato é um “carcinogéneo provável para o ser humano”. A partir daqui a discussão tem avançado e os receios aumentado, tanto que a União Europeia também está a discutir o problema, e o glifosato está num processo de reavaliação, pois as provas são poucas e como a questão é “provável”, sem certeza absoluta, pois o que há são indicadores, há que desenvolver estudos aprofundados e concertar posições científicas dos países utilizadores da substância. A própria Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), depois de conhecido o alerta da Organização Mundial da Saúde, em resposta às preocupações manifestadas por várias entidades, refere ser “pouco provável que o glifosato provoque um risco cancerígeno nos humanos expostos [à substância] através da alimentação”. Fica a suspeita para quem é exposto ao produto. Em Ponta Delgada, por exemplo, os trabalhadores usam fatos e máscaras. Isso levanta suspeitas ao cidadão. Um nosso colaborador, Carlos A. César, escrevia na sua página de facebook:, a propósito da farda usada pelos trabalhadores camarários quando estão a usar os herbicidas. “ Não, não é uma imagem de Chernobil, é uma imagem em Ponta Delgada como podia ser em muitas cidades por estas ilhas e país fora!
Ficamos todos admirados com o elevado aumento do cancro na população açoriana, e vamos continuar a admirar-nos enquanto o nosso comportamento não mudar.
Há pouco tempo, soube, que são usados produtos químicos para queimar a rama da batata, na semana anterior à sua apanha, facilitando a sua recolha. Admirados? Também fiquei!
As silvas, eram roçadas por homens e queimadas. Hoje, são queimadas com produtos químicos, que penetram no subsolo e vão aos lençóis de água potável usada na nossa alimentação. Admirados com os números do cancro? Eu não!
É urgente uma mudança de mentalidades e de costumes, é urgente uma fiscalização destes produtos no dia a dia de quem os usa. É urgente saber se estes produtos não estão a ser passados a outros por quem tem autorização de os adquirir!
Os nossos descendentes já estão a sofrer pela nossa falta de acção.
Estamos a alimentar um monstro!!”, escrevia Carlos A C César .
Os cidadãos começam a ter receios e os ambientalistas dizem que não há dúvidas de que o produto tem de sair do mercado, já que as provas científicas existentes são concertadas e pertinentes para que se afaste o produto da venda.

Freguesias jogam pelo seguro

Na Região, pelo sim e pelo não, há três autarquias que já não utilizam o produto para eliminar as ervas daninhas, e estão a usar meios alternativas para controlar o crescimento indiscriminados dessas pequenas pragas que proliferam nos jardins e ruas dos Açores: água com sal. Sai mais barato e é inofensivo. Esta decisão surgiu logo após o apelo da Quercus para que as autarquias não usassem este produto.
Por exemplo, a freguesia da Matriz da Ribeira Grande desde o mês de Outubro de 2014, e após uma fase experimental, conforme foi explicado na altura, abdicou do uso de herbicidas para o controlo de ervas daninhas em espaço público, substituindo-os pelo recurso a métodos manuais e à aplicação de uma solução tendo como base a água do mar.
Para além do exercício de poupança que a utilização da água salgada, um recurso local e gratuito, possibilita, a nova metodologia de controle das plantas espontâneas urbanas apresenta claros benefícios, sob o ponto de vista ambiental e para a saúde das populações. A adopção de tal prática conferiu à Freguesia o direito de figurar, no âmbito da campanha lançada pela Quercus e pela Plataforma Transgénicos Fora, como uma das doze autarquias do País (4 municípios e 8 freguesias e a primeira dos Açores) “livres de Glifosato”, que como considerou a autarquia,” uma substância activa usada em herbicidas com efeitos particularmente nefastos para o meio ambiente”.
Certo é que a Quercus fez deste combate uma das suas prioridades, a que se juntaram-se-lhe outras organizações ambientalistas para tentar proteger a saúde dos cidadãos, e principalmente de quem está exposto em demasia ao produto, pela utilização consecutiva. A Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou, recentemente, o herbicida glifosato, como “provavelmente cancerígeno”. Existe algum risco em utilizar produtos que o contenham? Os estudos dizem que há risco para a saúde, o que levou a Quercus a lançar uma petição pública intitulada “Proibição do Herbicida Glifosato em Portugal”, que já vai em mais de 16 mil assinaturas, para sensibilizar o poder político para erradicar os produtos com glifosato do mercado. Nos Açores, também houve quem promovesse semelhante iniciativa. É o caso de Teófilo Braga, um dos dos promotores da petição “ Não ao uso de herbicidas em espaços públicos nos Açores” (http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT75835) que, segundo nos contou, muito em breve vai ser enviada aos Presidente da Associação de Municípios da Região Autónoma dos Açores, para os Presidentes das Assembleias Municipais dos Açores, para os Presidentes das Câmaras Municipais dos Açores, para os Presidentes das Assembleias de Freguesia dos Açores e para Presidentes das Juntas de Freguesias dos Açores.
A petição, sublinha, que “considerando que são conhecidos os riscos do uso dos herbicidas, não só dos que têm como substância activa o glifosato, para a saúde pública e para o ambiente e que as várias entidades que os usam conhecem os outros meios, mecânicos e térmicos, alternativos ao uso de herbicidas não entendemos a razão por que nada ou muito pouco fazem para proporcionar uma melhor qualidade de vida aos açorianos.
Lembram que em 2014, a QUERCUS e a Plataforma Transgénicos Fora (PTF) iniciaram uma campanha alertando para os riscos ambientais e de saúde da aplicação de herbicidas em espaços urbanos.
Atendendo a que o uso de herbicidas, nomeadamente daqueles em que a substância activa é o glifosato, é uma prática generalizada em diversas autarquias locais, nos Açores, um grupo de cidadãos decidiu reforçar o apelo das referidas associações, lançando a presente petição dirigida aos eleitos locais da Região Autónoma dos Açores.
Assim sendo: referem: “ 1 – Considerando os riscos de vários herbicidas e em particular daqueles cuja substância activa é o glifosato que actua nos animais como desregulador hormonal e cancerígeno, mesmo em doses muito baixas;
2 – Considerando que há outros meios para o controlo das ervas espontâneas, como os mecânicos e térmicos;
3- Considerando que a nova legislação sobre o uso de pesticidas (Lei n.º 26/2013, de 11 de Abril, que transpõe a Diretiva 2009/128/CE), aponta para que só haja aplicação de herbicidas quando não existam outras alternativas viáveis, nomeadamente meios de combate mecânicos e biológicos”.
O apelo é que todas as Câmaras Municiais e Juntas de Freguesia dos Açores para que adiram ao manifesto “Autarquia sem Glifosato” *, a qual significa evitar o uso de herbicidas e recusar a utilização de glifosato , contribuindo assim para a melhoria da qualidade de vida de todos os que residem ou visitem os Açores.

A favor do ser humano
e do ambiente

O professor Teófilo Braga, que é também um ambientalista, aliás foi um dos fundadores e Presidente da Direcção dos Amigos dos Açores- Associação Ecológica, disse ao nosso jornal que “considerando que são conhecidos os riscos do uso dos herbicidas, não só dos que têm como substância activa o glifosato, para a saúde pública e para o ambiente e que as várias entidades que os usam conhecem os outros meios, mecânicos e térmicos, alternativos ao uso de herbicidas não entendemos a razão por que nada ou muito pouco fazem para proporcionar uma melhor qualidade de vida aos açorianos”.
Teófilo Braga, junta a sua voz aos milhares que querem uma região e um país livre de glifosato, e saúda, através do nosso jornal, as três juntas de freguesia dos Açores que já aderiram à campanha da Quercus “contra o uso de herbicidas em espaços públicos”, Matriz (Ribeira Grande), Praia do Norte (Faial) e Santa Cruz da Graciosa (Graciosa).
Por seu turno, Diogo Caetano, Presidente da Direcção dos Amigos dos Açores - Associação Ecológica, manifesta também a sua preocupação pelo uso do principio activo.
Recorda que há diversos estudos que apontam para diversos problemas na saúde públicos associados à utilização de glifosato, muitos dos quais cancerígenos ou com evidências significativas devido à exposição prolongada a estes compostos químicos. Análises efectuadas em vários países, nomeadamente através da urina e de sistemas de esgotos, tem-se verificado que uma presença grande de glifosato no organismo das pessoas e na rede pública, daí a posição que tem sido transmitida por várias entidades, que levam a petições e a acções de sensibilização.
No entender de Diogo Caetano, sempre que há suspeita de haver risco para a saúde pública pelo princípio da prevenção, não se deve usar estes produtos, lembrando que muitas das vezes a problemática e os seus efeitos não são muitas vezes considerados porque não são imediatos mas há que ter atenção porque o podem ser a longo prazo devido à exposição prolongada.
Nos Açores, a situação é preocupante, porque, como refere o Presidente da associação ecológica, quase todos os municípios utilizam o glisofato no seu território, com as excepções que se conhecem, por isso entende que tem de haver uma maior sensibilização para a problemática.

Uso de pesticidas para poupar
na mão de obra
A falta de mão-de-obra para a agricultura, a necessidade de conter as despesas no tratamento dos campos e a necessidade de produzir a baixo custo para uma maior rentabilidade do que se retira da terra, tem levado a que cada vez mais, mesmo para a agricultura familiar e para eliminar as ervas daninhas do jardins e espaços públicos, se recorra ao uso de herbicidas para eliminar aquilo que se considera ser uma praga. Mas se por um lado se poupa por outro há, eventualmente, riscos acrescidos para a saúde pública que podem sair muito caro, tanto para os cidadãos como para os governos. O problema não é um exclusivo de um país ou de uma região mas global, a que os Açores não são excepção. Aqui, ao que sabe, mesmo com a obrigatoriedade de ser necessária formação para o uso destes produtos, e consequente venda limitada a quem tem o curso, certo é o uso é, quase indiscriminado. As autarquias usam-no abundantemente para controlar as ervas dos caminhos e de alguns espaços públicos ajardinados, o governo também o faz nas áreas da sua competência, e os agricultores e particulares também o usam. Portanto, o uso do produto é usado, apenas com a restrição à formação. Para as associações para a defesa e preservação ambiental isso é muito pouco, não ajuda a defender o ambiente e a saúde pública, e ao longo do tempo, principalmente desde 2013, têm vindo a desenvolver acções cada vez mais significativas em todo o mundo, e em Portugal o assunto já chegou à Assembleia da República em Abril de 2015, num projecto de resolução dos Verdes, Bloco de Esquerda e PAN, que que fosse proibido o uso de glifosato, o principio activo dos herbicidas mais usado no país e na região, mas foi chumbado. No entanto, já foram dados passos. O Ministério da Agricultura, determinou este ano a saída de 17 produtos do mercado, de um total de 83 que contém glifosato. Assim, foi retirada do mercado a taloamina e todos os produtos fitofarmacêuticos que continham aquela substância por constituírem um risco grave para a saúde dos homens e de todos os seres vivos.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Touros de morte


Sal da Ira, nov/dez de 1995