quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Clima: Vinte anos a empurrar com a barriga?


Clima: Vinte anos a empurrar com a barriga?

As preocupações com as alterações climáticas terão começado com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro.

Na referida conferência, os responsáveis políticos admitiram que era urgente alterar o modo como era até então encarada a relação do homem com o planeta e que era importante conciliar o desenvolvimento socioeconómico com os recursos finitos da Terra. Também foi reconhecido que o estilo de vida consumista do mundo ocidental, baseado na sobre-exploração dos recursos naturais e no uso dos combustíveis fósseis, estava a alterar o clima.

Em 1995, reuniu pela primeira vez em Berlim, a COP- Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre alterações climáticas, onde teve inicio a negociação de metas e prazos para a redução da emissão de gases com efeito de estufa.

Desde aquela data até hoje, anualmente o clima está (ou devia estar?) na agenda das “preocupações” dos líderes mundiais.

Este ano, tal como tem acontecido em anos anteriores, os acordos alcançados têm sido considerados para uns como a salvação do planeta e para outros, mais pessimistas ou mais realistas, como insatisfatórios.

De entre as organizações insatisfeitas com os resultados da Conferência de Paris, refiro os “Ecologistas en Accion” (Ecologistas em Ação), uma confederação de mais de 300 grupos ecologistas espanhóis defensora do ecologismo social, que entende que os problemas ambientais são originados pelo modelo atual de produção e consumo. Segundo eles, o acordo alcançado foi “dececionante que ignora os cidadãos”.

Para além de dececionante, segundo os Ecologistas em Ação, o acordo também é insuficiente por não apresentar as ferramentas necessárias para combater com eficácia o aquecimento global. Segundo a mesma organização, perdeu-se uma oportunidade de reforçar e internacionalizar uma mudança de modelo baseado no uso das energias renováveis, que mantenha no subsolo 80% dos recursos fósseis, detenha a indústria extrativa e se ajuste aos limites do planeta. Pelo contrário, optou-se pela consagração da mercantilização do clima e pelas “falsas soluções”.

Ainda segundo a mesma fonte, que estamos a citar, o texto adotado é perigosamente vago e aberto, onde os compromissos para a redução de emissões não são vinculantes. Além disso, a meta da descarbonização das economias acabou por ser transformada numa vaga referência, onde se dá primazia à compensação das emissões com efeito de estufa em vez de se apostar claramente na sua redução significativa que só é possível através da alteração da forma de produzir e de consumir.

Para os Ecologistas em Ação não há razões para os cidadãos ficarem de braços cruzados, pois se se fechou uma janela a porta da cidadania, está mais aberta do que nunca. Assim, segundo eles há que implementar e divulgar ao máximo experiências como a agroecologia, a soberania alimentar, a mobilidade sustentável, etc.

Sobre as falsas soluções para o clima, outras organizações já se pronunciaram contra a falácia da energia nuclear como alternativa aos combustíveis fósseis e contra o “financiamento climático para a incineração”, pois consideram que se trata de uma energia suja que contribui para o efeito de estufa e para a contaminação do ar.

Outras organizações consideram que o acordo alcançado não passou de um rol de boas intenções, pois não é possível reduzir as emissões sem por em causa a essência do capitalismo já que ele, dizendo-se de estado ou liberal, é o verdadeiro responsável pela crise global que afeta todo o planeta.

Termino, referindo que “mudar o sistema, não o clima” tem de deixar de ser apenas um “slogan” e passar a ação e, embora ache que é sempre possível mudar de opinião, recordo uma frase de Albert Einstein: “Nenhum problema pode ser resolvido pela mesma consciência que o criou”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30809,16 de dezembro de 2015,p. 14)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Boletim nº 77

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

SOS eucalipto-limão de Vila Franca


SOS eucalipto-limão de Vila Franca

A 18 de junho de 2014, num texto intitulado Jardins de Vila Franca do Campo, chamei a atenção para o estado de alguma degradação em que se encontravam os jardins Antero de Quental e Dr. António da Silva Cabral, que se traduzia, sobretudo, na existência de placas identificativas sem planta associada, a presença de plantas sem os azulejos com a identificação, a plantação de espécies em locais inapropriados e sinais de algumas podas mal executadas.

Hoje, apenas irei fazer referência ao Jardim Dr. António da Silva Cabral, localizado em frente à Igreja dos Frades que deve o seu nome ao presidente da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo que “revolucionou” o concelho, tendo sido ele o responsável por muitos melhoramentos, com destaque para o traçado da entrada poente da Vila, com a Avenida da Liberdade e o Jardim, o mercado de peixe, o cemitério e a primeira instalação da luz elétrica pública nos Açores.

Das várias espécies presentes nesse jardim, distingue-se pelo seu porte monumental o eucalipto-limão (Corymbia citriodora) que infelizmente se encontra doente, precisando de ser devidamente tratado para que a incúria humana não seja responsável pelo seu desaparecimento prematuro.

Originário de regiões de clima temperado e subtropical do nordeste da Austrália, o eucalipto-limão encontra-se hoje espalhado pelas mais diversas regiões do mundo, estando presente em África, no Brasil, na China, na Índia, nos Estados Unidos e em Portugal, onde a sua presença é residual e quase circunscrita a jardins.

Não sabemos quem terá fornecido o eucalipto-limão à Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, nem temos dados suficientes para apontar o nome de José do Canto como o introdutor da espécie na ilha de São Miguel. Contudo, sabe-se que José do Canto plantou-o no seu jardim, em Ponta Delgada, em 1867, vindo de França.
O eucalipto-limão adaptou-se bem, em São Miguel, de modo que em 1868 já fazia parte de uma listagem de plantas existentes no Jardim José do Canto para doação ou permuta. Esta questão suscita-nos uma interrogação: por que razão hoje o eucalipto-limão quase desapareceu em São Miguel?

O eucalipto-limão também conhecido por eucalipto-cheiroso é uma árvore de médio a grande porte, podendo atingir, atendendo às condições dos solos e climas, 50 metros de altura e 1,2 m de diâmetro à altura do peito, apresentando uma folhagem rala, com folhas estreitas e com um forte aroma a limão, daí uma das suas designações comuns.

A sua madeira, dura mas fácil de trabalhar, é muito utilizada na construção civil, no fabrico de móveis, na arborização de caminhos e estradas em áreas rurais, como combustível e no fabrico de carvão. As suas flores são melíferas e o óleo essencial dele extraído tem muito interesse em virtude de possuir um teor elevado em citronedal que é utilizado, tanto em perfumaria como repelente de insetos.

Para além do tratamento adequado que merece o eucalipto-limão, consideramos que à semelhança de outros exemplares existentes na Região Autónoma dos Açores, é urgente a sua classificação em virtude do seu porte e raridade e por constituir um monumento vivo que enriquece o património natural e paisagístico de Vila Franca do Campo.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30804, 10 de dezembro de 2015, p.15)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Pelo fim dos canis de abate



A Câmara de Ponta Delgada, a Associação Zoófila Portuguesa e a Campanha de Esterilização de Animais Abandonados estabelecem parceria para a esterilização de cadelas no Concelho de Ponta Delgada
Comunicado de imprensa:

A Câmara de Ponta Delgada, a Associação Zoófila Portuguesa e a Campanha de Esterilização de Animais Abandonados estabeleceram uma parceria com vista à esterilização de cadelas no concelho de Ponta Delgada. A esterilização está a decorrer desde 1 de Dezembro e vai prolongar-se até 15 do mesmo mês.
Essa parceria, que conta também com a participação das Clínicas Veterinárias aderentes, visa esterilizar 60 cadelas, tendo como intuito colocar a castração na ordem do dia e transformar o Centro Oficial de Recolha de Ponta Delgada (Canil Municipal) no futuro próximo num “Canil de Abate Zero”.
A campanha foi proposta ao Centro Oficial de Recolha de Ponta Delgada pelas associações acima referidas, tendo em conta o excesso de animais no concelho e a demonstração por parte da Câmara Municipal em mudar estruturalmente as condições existentes.
O licenciamento do canil, o primeiro nos Açores e um dos poucos em Portugal, aliado a uma política de transparência, existência de informação estruturada e ainda uma atitude de pro-atividade na procura de soluções duradouras, destacando-se as boas práticas inerentes da esterilização de todos os animais que são adotados, são condições essenciais e fundamentais para a concretização da Campanha de Esterilização.
As Clínicas Veterinárias que aderiram a esta Campanha (Capelas, Paim, São Gonçalo e Vila Franca do Campo) são o pilar da execução. Aliás, sem a colaboração das mesmas não seria possível levar a cabo um projeto desta envergadura.
O Centro Oficial de Recolha de Ponta Delgada tem parcerias com outras associações ligadas à defesa dos animais, nomeadamente no que respeita ao programa de captura, esterilização e devolução.
Sublinhe-se que a parceria em apreço é de extrema importância porque irá contribuir para a colocação dos concelhos envolvidos (Ponta Delgada, Vila franca do Campo e Nordeste), na rota da melhoria das condições de vida dos cães, evitando no curto prazo o nascimento de várias centenas de crias que previsivelmente acabariam por entrar no Centro Oficial de Recolha de Ponta Delgada.

Ponta Delgada, 7 de Dezembro de 2015
Assessoria de Imprensa
Lubélia Duarte

http://www.cmpontadelgada.pt/Site/FrontOffice/default.aspx?module=News/News&id=93542

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Os animais também sentem


Os animais também sentem

Numa parceria entre duas direções regionais, a da Educação e a da Agricultura, em boa hora foi lançado o concurso escolar “Os animais também sentem” que se vai desenvolver no âmbito do Plano Regional de Leitura e da Campanha contra o abandono dos animais.

Destinado a alunos do 4º ano do ensino básico dos Açores, o concurso tem, entre outros, os seguintes objetivos:
- Sensibilizar os alunos para a defesa dos direitos dos animais e o combate ao abandono e a todas as formas de maus-tratos;
- Promover competências de literacia de leitura e de escrita;
- Fomentar o desenvolvimento de uma cidadania regional e local;
- Sensibilizar para a importância do tratamento digno devido aos animais;
- Divulgar e partilhar com a comunidade educativa os recursos educativos desenvolvidos nas várias escolas.

Embora esteja subentendida a abertura a “todas as formas de maus tratos”, os temas do concurso estão dirigidos para os animais de companhia, nomeadamente para as questões do abandono e das adoções responsáveis, como se pode concluir do seguinte texto do regulamento:

“… Adotar um animal implica estabelecer uma relação duradoira de cumplicidade e satisfação das necessidades do animal. Os cuidados que um bicho requer - alimentação adequada, consultas ao veterinário, passeios e carinho -, significam tempo, dedicação e investimento financeiro. Muitas vezes as pessoas cativam-se com a graciosidade dos filhotes e não se dão conta de que eles crescerão, tornando-se, para alguns, menos atrativos e até um fardo.

Do mesmo modo, e no momento da adoção, as pessoas ignoram o tempo de vida do animal - cerca de 12 anos para cães e 20 anos para gatos. Com o passar do tempo, e o avolumar dos problemas, a tentação de abandonar o animal à sua sorte aumenta. Os trabalhos devem, portanto, promover pelo menos uma destas questões: a adoção responsável, o combate ao abandono dos animais e /ou a todas as formas de maus tratos.

Infelizmente, a oportunidade poderia ter sido aproveitada para uma campanha que abrangesse um leque mais alargado de situações de que são vítimas outros animais e não apenas os de companhia. Assim, seria de todo o interesse chamar a atenção para o sofrimento de alguns animais ditos de produção, como bovinos que vivem parte do ano na lama, em algumas explorações pecuárias, os cavalos famintos e maltratados, os bovinos que são torturados nas diversas modalidades tauromáquicas, com destaque para as ferras desnecessárias, as cruéis tentas e as touradas de praça, que alguns insistem em chamar tauromaquia artística, os animais selvagens enjaulados em parques zoológicos, etc.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30803, 8 de dezembro de 2015, p. 14)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Plátanos, podas e afins



Plátanos, podas e afins

Este ano está a terminar e já começaram as podas de várias árvores pelas mais diversas razões, de que se destacam a segurança das viaturas e seus ocupantes, para evitar trabalhos com a limpeza das folhas, embora abunde a mão-de-obra, para ocupar a mão-de-obra que nada mais tem para fazer e, por último, porque sempre se fizeram.

A falta de preparação de alguns podadores, associada à insensibilidade de quem os dirige, levou a que trabalhos tecnicamente mal feitos fossem transformados em modelos a seguir ou tradição arraigada que dificilmente será mandada para as urtigas, nem mesmo quando das ditas podas resulta aberrações que ferem a vista e fazem doer o coração dos mais sensíveis ou sensatos.

A denúncia dos atentados ao bom senso e ao bom gosto e à paisagem perpetrados contra as árvores não tem surtido qualquer efeito e tem vindo a repetir-se, ano após ano, não sabemos desde quando e até quando.

Depois desta introdução que já vai longa, no restante espaço que me é disponibilizado irei dar a conhecer o debate que ocorreu acerca do embelezamento das nossas estradas em 1953, ano em que pelos vistos já existiam podadores podões.

No mês de Abril de 1953, um colaborador do Correio dos Açores, num texto intitulado “O embelezamento das estradas de turismo”, defendeu que devido às grandes manadas de gado as estradas não poderiam ser ajardinadas com plantas de pequeno porte, frágeis e de crescimento lento e que “o atraso de educação do nosso povo, criado sem o exemplo e sem a noção do respeito devido às plantas e às flores, torna quase impossível a defesa de todas as espécies, que se não defendam por si próprias, crescendo e tornando-se depressa duras ao corte e ao arranque”.

Hoje, através das observações que temos feito e que são do conhecimento público, por mais projetos para o sucesso escolar que se implementem, a deseducação que vem do berço e que a escola não colmata por mais que se esforce, facilmente se chega à conclusão de que as vacas são mais respeitadoras do património que é de todos do que muitos humanos que continuam a roubar pequenas plantas e a partir árvores, algumas das quais localizadas em frente às suas portas para aumentar a área de estacionamento disponível.

O autor referido também manifestou a sua discordância com o uso de algumas espécies que não se adaptaram ao regime de ventos fortes e ao rocio do mar e que depois acabaram por ser substituídas por plátanos. Além disso, também, condenou a mutilação dos plátanos que eram, e pelos vistos continuam a ser, podados “barbaramente” ou mesmo arrancados para plantação de “flores e arbustos numa terra, onde nem na cidade, se cuida sempre dos recantos ajardinados”.

No mês de maio, do mesmo ano, outro colaborador do Correio dos Açores escreveu sobre o embelezamento das estradas, nos seguintes termos: “não sou “contra” o plátano nas estradas. Mas também não sou só pelo plátano; “nem sempre galinha”!”

Este último colaborador não se ficou pela defesa da diversidade, tendo apresentado algumas sugestões de plantas a serem usadas, como ulmeiros, eucaliptos, castanheiros, vulgares ou da Índia, carvalhos, nogueiras, tílias, ligustros, faias, cedros, freixos, azinheiras e cameleiras.

Para acompanhar as árvores e para evitar a monotonia, a sua sugestão era a de alternar as hortênsias com outras plantas de menor porte, como primaveras, azáleas, rododendros, sabugueiros, dálias, boninas, jarros, cravos da Boa Esperança e pervincas.

Concluo, afirmando que, apesar de todo o conhecimento que se adquiriu desde então até agora, nunca é tempo perdido conhecer o que pensava quem viveu antes de nós e que desinteressadamente deu o seu contributo para que a nossa terra fosse melhor.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30799, 2 de dezembro de 2015, p.15)