quarta-feira, 30 de julho de 2014

As odiadas árvores



As odiadas árvores
“O que mata um jardim não é o abandono. O que mata um jardim é esse olhar de quem por ele passa indiferente.” –  Mário Quintana
1-      O horror à árvore
É de todos conhecida a importância das árvores para o equilíbrio do planeta, sendo também conhecida a importância da sua presença em meios urbanos, tanto em jardins como nos arruamentos. No segundo caso, sabe-se que as árvores contribuem para a amenização da temperatura do ar, promovem a descontaminação atmosférica e são propiciadoras de sombra.
Apesar do conhecimento das virtudes das plantas ser quase generalizado, uma parte significativa das pessoas comporta-se perante as mesmas como se nada soubesse, agindo pensando apenas nos seus interesses materialistas de curto prazo.
Assim, um pouco por todo o lado, assiste-se a chamadas podas radicais e a abates de árvores a pedido de moradores, por vezes preocupados com a simples queda de folhas. A título de exemplo, refiro o caso de um morador das Capelas que, há alguns anos, queria abater um plátano porque o seu vizinho da frente, havia tido a autorização para abater um para tornar possível a abertura de um portão para a sua moradia recém- construída ou o caso, recente, de um cidadão de Vila Franca do Campo que achava que se deviam abater um conjunto de metrosiíderos pelo simples facto das suas flores caírem sobre os automóveis estacionados.
Quando não está em risco a vida das pessoas ou o estrago de bens, não consigo perceber o que leva algumas criaturas a não terem qualquer respeito pelas árvores.
Querem sombra, querem ver as suas terras ou ruas bonitas, mas não suportam ter o trabalho de recolher as folhas ou a as flores quando caiem.
Hoje, em que para todos os problemas a técnica tem uma solução, pelo menos pensam alguns, recomenda-se que as autarquias substituam as árvores existentes por árvores plásticas, isto apenas enquanto a engenharia genética, ou outra, não inventar árvores que não cresçam e sem folhas.
2-      Em defesa da árvore
Alice Moderno, conhecida pela sua luta em defesa dos animais, também não foi indiferente às árvores de tal modo que, apesar das dificuldades momentâneas por que passou, nunca mandou “abater e reduzir a achas uma árvore que não tenha tido morte natural”.
Em 1940, a propósito de uma campanha movida contra os metrosíderos do “Largo 5 de Outubro”, Alice Moderno denunciou aqueles que pretendiam dar cabo dos mesmos, tendo afirmado que cabia a todos os que sabiam escrever “ser intérpretes perante as pessoas de quem depende a sorte das formosas árvores que constituem um dos patrimónios vegetais de Ponta Delgada”.
No mesmo texto, publicado no Correio dos Açores, Alice Moderno mencionou o caso do pianista Roger Godier e da mulher que ficaram comovidos ao assistirem ao corte de “lindas araucárias” no Largo Almirante Dunn.
Infelizmente, outrora como nos nossos dias, os residentes nem sempre dão valor ao que é seu.
Outra pessoa sensível ao (mau) tratamento das árvores foi o Eng. Silvicultor e Arquiteto Paisagista Ilídio Gonçalves. Natural de Vila Pouca de Aguiar, viveu na Horta e em Angra do Heroísmo, tendo sido professor convidado do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores.
A propósito das podas mal feitas, Ilídio Gonçalves escreveu em 1985: “Nós que purificamos o ar poluído das ruas; nós que vos damos a sombra refrescante no estio e o abrigo acolhedor no Inverno; nós que ajudamos a construir o vosso lar e aquecemos a vossa lareira; nós que vos deleitamos com cores garridas e variadas ou com aromas inebriantes …por que nos mutilais os ramos frondosos? Por que nos crivais de feridas que apodrecem o lenho valioso? Por que nos sangrais a seiva viçosa?”
Depois de dar exemplos de trabalhos mal executados, o Engº Ilídio Gonçalves termina o seu texto com o seguinte apelo: “Senhores responsáveis! Acreditem que estão errados; procurem o auxílio e o conselho de quem sabe e pode ajudar-vos a salvar as martirizadas árvores amigas que teimam em sobreviver!”.


Teófilo Braga

(Correio dos Açores, nº 30399, 30 de Julho de 2014, p.14)

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Assine e divulgue




Ribeira Grande pelo património natural e cultural, livre de espetáculos com touros

Para: Exmo. Sr. Presidente da Câmara da Ribeira Grande, Exmos. Srs. Vereadores da Câmara da Ribeira Grande,

Nos últimos anos temos assistido no concelho da Ribeira Grande à promoção e realização de espetáculos de tourada à corda à moda daqueles que são realizados na ilha Terceira. Estas atividades, geralmente anunciadas como “vacadas”, têm sido realizadas sem ter nunca um claro licenciamento e enquadramento legal no município.

Sob esta consideração, a Assembleia Municipal da Ribeira Grande aprovou recentemente uma recomendação à Câmara Municipal “para o não licenciamento de atividades com touros, salvaguardando a segurança das pessoas e animais”. A Assembleia Municipal salienta na sua recomendação que na Ribeira Grande não existe tradição de touradas em nenhuma das suas freguesias, que não existem as condições objetivas nem de segurança para a sua realização, que não existe um regulamento municipal que preveja o seu adequado licenciamento, que não existem funcionários municipais com experiência para as acompanhar e fiscalizar e, finalmente, que “não existe a garantia prévia ou meio de prova que salvaguarde a segurança das pessoas nem a consagração dos princípios de respeito pelos animais e demonstração da utilidade da promoção de atividades deste tipo”. Infelizmente a Câmara Municipal entendeu agora não respeitar esta recomendação. 

Nós, cidadãs/ãos, consideramos que práticas de entretenimento com animais como a tauromaquia são uma expressão de insensibilidade e de violência que deseduca e em nada dignifica às pessoas nem o bom nome do concelho. 

Achamos incompreensível que estas práticas sejam agora autorizadas na Ribeira Grande, ou mesmo na ilha de São Miguel, onde não existe nenhuma tradição de touradas. Consideramos ainda que a importação à Ribeira Grande destes retrógrados espetáculos, que já foram banidos em muitos países, até naqueles denominados de "países do terceiro mundo", e são cada vez mais rejeitados em todo o mundo, significa um claro retrocesso civilizacional para o nosso município. 


Ainda, salientamos que a realização deste tipo de espetáculos violentos provoca numerosos feridos entre os assistentes, muitas vezes graves, e até mortos, os quais não deveriam pesar nunca na consciência das/os cidadãs/aos ribeiragrandenses, nem dos seus governantes. 

Num concelho que quer ser respeitado pela sua modernidade, pelo seu apego e proximidade aos valores naturais, pelo desenvolvimento do turismo de natureza e pelo seu cuidado e bem-estar dos animais, não existe lugar para este tipo de espetáculos degradantes para animais e pessoas. 

Assim, através da presente petição, ferramenta de participação cívica, as/os cidadãs/ãos subscritoras/es, apelam à Câmara Municipal da Ribeira Grande que, enquanto poder executivo cumpra a deliberação da Assembleia Municipal de impedir o licenciamento de touradas no nosso município, mantendo o nosso concelho livre de todo tipo de espetáculos com touros; 

Pelo Coletivo Alice Moderno e  Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores 

subscrevem:

Alexandra Manes 

Ana Teresa Simões 

Cassilda Pascoal 

Luís Estrela 

Raquel Gamboa


domingo, 27 de julho de 2014

Terra Livre nº 70



sábado, 26 de julho de 2014

Um apelo que caiu em saco roto


quarta-feira, 16 de julho de 2014

JJDD



José Joaquim Delgado Domingos

Muito poucos são os professores universitários que não têm qualquer problema em vir para a praça pública denunciar as políticas ruinosas seguidas pelos governantes ou mesmo o compadrio de colegas com projetos desastrosos para a economia e para a qualidade de vida dos cidadãos de um país.
Uma das pessoas que fugiu à regra da subserviência aos poderes estabelecidos foi José Joaquim Delgado Domingos, professor catedrático jubilado do Instituto Superior Técnico, desde 2005, e que nos deixou no passado domingo, dia 6 de Julho, com 79 anos de idade.
Para quem não conhece a sua obra, recomendo a consulta da página “Textos de José J. Delgado Domingos (http://jddomingos.ist.utl.pt/) onde poderão ter acesso ao seu Curriculum Vitae resumido e a um conjunto de “textos pedagógicos e de intervenção pública bem como referências bibliográficas” que ele reuniu.
Tive o prazer de jantar uma vez em Lisboa com o professor Delgado Domingos a convite de um amigo comum, o Engenheiro Luís Tavares, onde conversamos sobre alguns projetos que os dois estavam a implementar no âmbito da associação “IDEA- Iniciativa para o Desenvolvimento, A Energia e o Ambiente” de que eu era um dos trinta e dois sócios fundadores.
Infelizmente, muito pouco foi concretizado pois a associação teve uma duração efémera. Contudo, foram publicados três boletins com textos de distintas personalidades do mundo científico e da luta ecológica, como José Carlos Costa Marques, Viriato Soromenho Marques, Jorge Paiva, Rui Cortes, Henrique Schwarz da Silva, Manuel Gomes Guerreiro, José Mattoso, Gonçalo Ribeiro Telles, Ilídio de Araújo, Fernando Santos Pessoa, Jacinto Rodrigues e Delgado Domingos.
No número dois do boletim “Iniciativa”, num texto intitulado “Energia Nuclear: para uns a energia, para os outros os resíduos”, Delgado Domingos, que segundo Viriato Soromenho Marques, “todos nós lhe devemos um contributo fundamental para impedir que Portugal entrasse no beco sem saída da energia nuclear”, escreveu a propósito dos que defendem a segurança do nuclear: “Essa segurança acaba sempre confiscando os direitos dos cidadãos. Porque os cidadãos que pensam, … ou podem começar a pensar de modo autónomo, são a arma mais temível para os vendedores dos dogmas e das drogas que os mantêm no poder”.
Ainda a propósito do mesmo tema, Delgado Domingos defendeu que a energia nuclear era mais do que uma simples forma de energia, sendo “um modelo de sociedade e uma cega visão de crescimento” e acrescentava: “visão cega, porque se recusa a admitir a evidência que é o colapso para que se dirige e que a finitude e estrutura do próprio planeta Terra inexoravelmente impõe. Demagógica porque ilude no crescimento global o crescimento da diferença, na qualidade de vida entre pessoas, entre regiões, entre países, e entre continentes. Desonesta, porque os mais pobres ficam com as promessas e os mais ricos com os seus frutos”.
Noutro texto, publicado num número especial da “Iniciativa”, Delgado Domingos não perdoa todos os que desvirtuam o conceito de desenvolvimento sustentável, e consideram que tudo se limita a “boas ou más oportunidades de negócio” e a soluções técnicas que resolvem todos os problemas, escrevendo o seguinte: “Este é o triste retrato da incultura que muita da nossa Universidade exprime, mostrando aonde pode levar a confusão entre Ciência e lobby quando se perdem as referências culturais e a cultura se transforma em mimetismo.”
Aquando do debate sobre a coincineração Delgado Domingues criticou os trabalhos da denominada comissão científica independente, tendo escrito vários artigos. Num deles, intitulado “A Coincineração e a Comunidade Científica”, acusa os membros da referida comissão de se terem enganado e de não terem vindo a público pedir desculpa. Segundo ele, “não só não o fizeram como substancialmente o agravaram com declarações públicas amplamente difundidas. Em linguagem científica, a este comportamento chama-se fraude científica”.
Empenhou-se politicamente, tendo colaborado com o MPT na altura em que vários militantes ecologistas, alguns dos quais oriundos dos Amigos da Terra- Associação Portuguesa de Ecologistas, faziam parte do mesmo, tendo sido cabeça de lista numa candidatura ao Parlamento Europeu.
A sua luta por uma Terra para todos não cairá no esquecimento.
Teófilo Braga

(Correio dos Açores, nº 30387, 16 de Julho de 2014, p.14)

sábado, 5 de julho de 2014

A tourada mata


Correio dos Açores, 5 de Julho de 2014

Não mais mortos e feridos nas touradas à corda


O Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA) lamenta profundamente a morte de mais uma pessoa, neste caso, a de um homem de 62 anos, durante a realização de uma tourada à corda na ilha de São Jorge. Esta morte é mais uma que vem somar-se à de um homem de 78 anos na ilha da Graciosa, em 2013, e à morte de um homem na ilha do Pico, em 2012. Assim, a trágica estatística das mortes nas touradas à corda na região situa-se, no mínimo, numa pessoa morta por ano.

Para além das pessoas que morrem, o número de feridos graves nas touradas à corda é bastante maior, como indicam os casos que chegam a ser conhecidos apesar de, no geral, raramente serem noticiados. No total, o número de feridos graves e ligeiros nos Açores como consequência das touradas à corda estima-se em mais de 300 em cada ano.

Estes números são necessariamente aproximados em virtude dos feridos e mesmo dos mortos resultantes das touradas à corda, não serem mencionados, na maioria das vezes pela comunicação social. Aliás, é lamentável que, no caso da pessoa recentemente falecida em São Jorge, a comunicação social tenha centrado a notícia exclusivamente nas dificuldades da evacuação médica, que não contestamos, chegando mesmo a não referir, muitas vezes, que a causa primeira da morte foram os ferimentos ocasionados durante uma tourada.

Todas estas mortes inúteis e todos estes numerosos feridos, graves ou ligeiros, poderiam ser facilmente evitados com a definitiva abolição das touradas nos Açores e a sua substituição por eventos culturais que, longe de cultivar a violência e a morte, fomentassem a alegria de viver e o respeito pelas pessoas e pelos animais. É cada vez mais evidente, nos Açores e em todo o mundo, que está na hora de acabar com esta barbárie absurda e sem sentido, permitindo aos povos evoluir e entrar definitivamente num progresso cultural próprio do século XXI.

Porém, longe deste entendimento, as touradas à corda continuam a receber apoios  públicos por parte do governo regional e das autarquias açorianas. Os governantes fecham os olhos à realidade e parecem varrer os mortos e os feridos para baixo do tapete.

Mas, ainda são também de lamentar as outras vítimas das touradas à corda: os touros. Infelizmente não são raros os casos de animais que chegam a morrer durante as touradas. São conhecidos casos de touros que morreram de esgotamento e outros que morrem ao embaterem contra um muro. São frequentes também os casos de animais que acabam gravemente feridos, perdendo um ou os dois cornos ao embaterem contra as paredes e muros, ou partindo ossos ao escorregar ou saltar nas ruas. É, ainda, comum ver touros com ferimentos, sangrando e sem que por isso se interrompa a festa.

Apesar de tudo isto, lamenta-se que alguns políticos ainda considerem as touradas como simples “brincadeiras” com os animais.

Partilhando o sentir da maioria da sociedade açoriana, o MCATA considera que não é admissível haver mais nenhuma morte nem mais feridos por causa das touradas à corda.

Por último, o MCATA apela às entidades que têm responsabilidade na matéria para que atuem sem mais demora.


Comunicado do
Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA)

02/07/2014